Sempre que ouço o termo Arquitetura de Referência, sou contagiado por uma cólera rabugenta. Esse termo maléfico é a causa do fracasso de vários projetos que eu já vi e, neste post, pretendo mostrar como uma arquitetura de referência é tão útil quanto um alçapão num barco.

Especulando as origens

De maneira bem simples e direta, a arquitetura de um sistema é responsável pelos requisitos não-funcionais dele. A partir disso já dá pra se ter uma ideia de o quão perigoso pode ser adotar uma arquitetura de referência. Adotá-la é afirmar que os requisitos não-funcionais serão sempre os mesmos. Isso combina bem com um outro termo terrível: Fábrica de Software.

Fábrica de Software é algo paradoxal e insustentável da forma como é aplicada hoje. Uma fábrica é uma linha de montagem onde o produto final é sempre o mesmo. Dois softwares nunca serão iguais e, mesmo que o sejam em 99%, o 1% restante pode ser o bastante para invalidar uma arquitetura. Eu acredito piamente que o termo Arquitetura de Referência tenha surgido em uma Fábrica de Software.

A questão dos padrões

Quem defende uma arquitetura de referência costuma enaltecer a padronização das coisas. O problema é que uma arquitetura de referência não padroniza nada, ela engessa. Uma coisa é você ter componentes, diretrizes e padrões e outra, completamente diferente, é ter uma base resposável por resolver os requisitos não-funcionais que ainda nem são conhecidos. É quase o mesmo que dar um patinete para um saci subir uma rampa só porque o Juquinha conseguiu subí-la assim.

Existem, ainda, as pseudo-arquiteturas de referência (praticamente o bizarro do bizarro), que nada mais são do que uma lista de frameworks de adoção obrigatória para qualquer projeto. A regra se aplica novamente aqui: não é porque um framework deu certo em um projeto que dará certo em outro.

Algumas coisas que parecem não ter importância

Além do desenvolvimento em si, existe um ponto vital que pode arruinar seu projeto: escalabilidade. Por vezes um projeto necessita de uma abordagem diferente para o mesmo problema somente porque desta vez são esperados milhares de usuários a mais e usar uma arquitetura de referência pode inviabilizar essa nova abordagem, ecoando pelos cantos da organização uma perguntinha bem conhecida:

No outro projeto funcionou muito bem, por quê não funciona aqui?

A resposta é simples: porque lá o barco não tinha alçapão.

Parece besteira, mas eu já vi isso acontecer (e não foi mais de uma vez). A falta de um arquiteto (ou a presença de um pseudo-arquiteto) leva a problemas dessa natureza.

Evolução natural?

Já vi um argumento muito bonito, dizendo que aquilo foi uma evolução natural e blá blá blá. Uma evolução que te amarra é, no mínimo, um retrocesso. Certa vez pude acompanhar um sistema cuja “evolução” da infraestrutura gerou uma engine de processamento parecida com o JSP e tinha até seu próprio framework de Collections! Não preciso nem dizer que o sistema dava mais problemas do que resultados, não é?

Conclusão

De maneira geral, arquiteturas de referência são uma péssima ideia porque:

  1. Não existem projetos iguais com as mesmas características, mesmo que sejam da mesma área.
  2. Engessar as coisas é ignorar a evolução tecnológica, pois aquilo que é igual em dois projetos pode ser melhorado ou feito de outra forma para suprir outras necessidades.

Não existe receita para construir sistemas, o que deve existir são bons arquitetos capazes de criar uma arquitetura que se adeque ao sistema e não criar um sistema que se adeque a uma arquitetura. Uma arquitetura de referência é uma solução em busca de um problema, por isso, diga não às drogas!